quinta-feira, janeiro 19, 2012


Simplesmente Menininha...


Foi num dia chuvoso, na rua em meio a muitos carros, que minha esposa encontrou a Menininha. Ela estava tremendo de frio e assustada. O coração de minha esposa falou mais alto e a resgatou...

Quando cheguei em casa, não me conformava por ter ingressado mais um cão em nosso lar. Já temos oito, e mais um já ultrapassava o limite dos limites. Porém, não resisti ao jeito de viver de Menininha e aos poucos ela foi me conquistando.

Menininha não era nenhum cão de raça. Era uma autêntica “vira-latas” ou chamada atualmente de Sem Raça Definida (SRD). Pêlo estilo sabugo, orelhas grandes e olhos amendoados. Na realidade o que mais nos chamou a atenção foi à atenção que aquele pingo de gente (se é que posso chamá-la assim) tinha com tudo que se passava ao seu redor.

Menininha tinha uma auto-estima elevada e não se importava com seu pequeno tamanho. Quando íamos recompensar cada cão com alguma guloseima, ela se embrenhava no meio dos outros querendo um pouco mais, quer fossem de seu tamanho ou bem maior. Ela não se fazia de rogada não.

Nossos cães latiam, Menininha também latia, como se também fizesse parte da matilha. Aliás, ela já se sentia parte de toda família.

Menininha olhava sempre nos nossos olhos, como se quisesse dizer algo. Era brincalhona e dócil. No segundo dia eu já a pegava no colo e lha dava atenção. Ela já tinha me conquistado.

Mas de forma implacável a doença surgiu. Conhecida como cinomose, ela alcançou Menininha e começou a avançar lentamente, sem sintoma inicial aparente. Quase uma semana depois de seu resgate, a doença já havia atingido o seu sistema nervoso. Uma das patas traseiras tremia, e esse foi o primeiro sintoma que apareceu e nos alertou. Levada ao veterinário, foi medicada e receberia ainda mais medicamento em casa: segunda dose de soro e antibióticos. Agora era aguardar para ver se Menininha iria ganhar a batalha contra a doença...

Infelizmente o quadro de Menininha só piorou. As tremedeiras, restritas às patas traseiras, agora impediam que Menininha andasse com equilíbrio e começaram a avançar para outras partes de seu corpinho. Mas ela estava resistente. Não queria que a doença avançasse. Quando era alimentada, comia tudo rapidinho. Estava lutando. Nós estávamos ao seu lado, e ela sabia e dizia isso com os olhos.

Foi no final do dia de ontem, nove dias depois do resgate, que percebemos que a batalha não seria vencida. Menininha andava com dificuldade, com a anca caída, e um de seus olhinhos já começava a tremer, mostrando que a doença agora já tinha tomado de forma cruel seu sistema nervoso...Começou a ter convulsões e espumava pela boca. Ela simplesmente gemia e andava de um lado ao outro, sem orientação nenhuma. Estávamos sofrendo em vê-la naquele estado. Com aquele quadro, era inevitável o final que tanto temíamos. Menininha já parecia desligada desse mundo...

Minha esposa passou a noite toda do seu lado e foi nesta manhã que levamos Menininha ao veterinário para ser feito o que seria melhor para abreviar seu sofrimento, visto que o quadro era irreversível segundo diagnóstico veterinário...Saímos de casa com tristeza, com Menininha envolta em uma coberta e no colo de minha esposa. Durante o trajeto ela continuava com as convulsões, espumava pela boca e mal conseguia abrir seus olhinhos. Seu corpinho se batia como se nadasse no ar...

Ficamos pensando se ela estivesse passando por todo esse sofrimento sozinha na rua e ainda contaminando os demais animais...Na sua curta vidinha, ela teve a oportunidade de ter tido, pelo menos por alguns dias, uma família. Foi acolhida e amada, levando para o Universo Astral esse sentimento de amor...Sei que é difícil, mas procuro sempre lembrar da Menininha altiva, brincalhona e dócil.

Simplesmente, Menininha, assim quero lembrar dela...No pouco tempo que ficou conosco nos ensinou mais ainda sobre os sentimentos de amor e compaixão.

Alexandre C. Alves